Resumo: Artigo 35783
A construção da memória da matemática no Brasil: lembranças, esquecimentos, silêncios e conflitos na internet. (8, 1, 20, 46, 59, 77)
Diogo Rios, Universidade Federal da Bahia; Universidade Estadual de Feira de Santana, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 47 - Chair: Alex Varela
Abstract.
A discussão da relação entre história e memória tem ocupado exaustivamente a historiografia contemporânea, produzindo um vasto material a respeito. Inicialmente, Bergson analisa a memória individual como um fenômeno privativo e interno, abordagem fortemente atacada pelo sociólogo Maurice Halbwachs que, distinguindo a memória individual da memória coletiva, considera ambas como fenômenos construídos socialmente, submetidos a flutuações, transformações e mudanças em função das relações estabelecidas entre os indivíduos e os grupos sociais. Aprofundando e estendendo o debate, Nora discute a supremacia da história sobre a memória nas sociedades contemporâneas, tratando ainda da produção e manutenção dos lugares de memória, da necessidade individual e grupal de se fazer percebido, de registrar de alguma maneira sua presença no mundo e na história, de se fazer lembrar pelas próximas gerações. Todavia, destacando as influências metodológicas da sociologia de Durkheim na abordagem de Halbwachs, que enfatiza a duração, a continuidade, a estabilidade e as funções positivas da memória na vida social, Pollak contrapõe focar os processos e atores que intervêm no trabalho de constituição e formalização das memórias coletivas, que lhes atribuem duração e estabilidade. Para ele, uma versão oficializada do passado coletivo não representa a recuperação do passado para todos os integrantes do grupo social, mas apenas para aqueles que conseguiram exercer a hegemonia nas relações de poder com os outros, uma vez que detendo o controle das práticas e dos lugares de memória privilegiam uma versão como oficial em detrimento de outras versões que, por não disporem dos mesmos espaços, exercem sua resistência representando-se por meios alternativos ou a partir do seu silêncio. Assim, o consenso das memórias particulares, para que constituam uma memória coletiva cristalizada, é gerado a partir de disputas entre as memórias concorrentes, num jogo de negociações que tenta, com a menor perda possível de identificação de seus membros, conciliar memória coletiva e memórias individuais, elegendo aquelas que melhor se ajustam à identidade coletiva que se quer construir. Essas proposições de Pollak estão em geral de acordo com certos representantes da nova história cultural, como Ginzburg e Thompson, que de formas diferentes propõem um compromisso ético e político para o historiador, de ouvir a voz dos homens e mulheres que não integraram os grupos sociais dominantes ou hegemônicos, buscando entender seus pontos de vista e suas versões do vivido, em suma, construindo com eles uma história vista de baixo. Mais recentemente, tem ganhado espaços a discussão sobre a internet como um privilegiado lugar de memória, que por não possuir um referencial geográfico definido, encontra-se agora disponível numa outra medida de acessibilidade, a partir de outros meios que não somente o presencial. O objetivo deste trabalho é analisar o processo de construção da memória matemática no Brasil com base na identificação das lembranças, dos silêncios, das disputas e dos conflitos das memórias encontrados em páginas institucionais e pessoais da internet. Por exemplo, analisaremos o confronto entre a memória institucional do IMPA, acerca do processo de afastamento de um dos seus fundadores, Leopoldo Nachbin, e das memórias sobre o próprio Nachbin. Analisaremos a organização e estruturação de uma memória coletiva estável, identificada com a imagem de centro internacional de excelência na pesquisa matemática, sustentada pelo grupo de matemáticos dominante no IMPA nos últimos trinta anos, em confronto com memórias individuais ou grupais que, considerando-se excluídos ou injustiçados, apropriam-se do espaço virtual da internet para expressar sua resistência.